Foram precisos 89 recordes do Mundo (54 em piscina olímpica e 35 em curta) em apenas dez meses de competição em 2008, vários dos quais estratosféricos e obtidos por atletas até então medianos, para que os dirigentes da Federação Internacional (FINA) estranhassem e prometessem pensar de modo sério o futuro dos fatos de competição. Não menos importante é o detalhe de dez destes recordes terem sido obtidos já depois dos Jogos Olímpicos e em plena "época baixa" das competições.As hostilidades foram abertas pela Speedo, com os LZR construídos em Portugal, mas depressa Arena, Tyr e até a desconhecida Blueseventy entrarem na guerra da tecnologia. Os recordes que começaram a cair por todo o Mundo ajudaram a encher alguns cofres, com contratos publicitários, mas houve mesmo quem se questionasse se Michael Phelps teria conseguido as oito medalhas de ouro olímpicas sem a "ajuda" do chamado tecnodoping. As primeiras contrariedades começaram entretanto a surgir. A Nike abandonou a natação, os fatos rareiam, são caros e entregues de modo discriminatório (muitos atletas queixam-se de estarem meses à espera sem sucesso). Mas as marcas são alucinantes e treinadores ouvidos pelo site "Swimnews" questionam se alguns dos novos recordistas saberiam nadar no topo sem a ajuda dos fatos, embora o pragmatismo tome conta das ideias de alguns: "Enquanto o dinheiro continuar a entrar, eles pouco se vão importar com os danos que estão a causar à natação".O todo-poderoso Cornel Marculescu, director-executivo da FINA, admitiu este fim-de-semana, pela primeira vez, rever as regras: "É altura de respirarmos e repensarmos a questão dos fatos. Não pode haver dúvidas que eles influenciam as performances. Agora temos a certeza que alguma coisa há e precisamos de estabelecer o limite". Fevereiro promete ser um mês importante, porquanto está aprazada uma reunião alargada na FINA para discutir a questão. Até lá está aberto prazo de reflexão, "onde todos os contributos serão bem-vindos" referiu o responsável executivo de modo a que as conclusões (e novas soluções) possam vir a ser apresentadas até ao Mundial de Roma, no Verão do próximo ano. A verdade é que 2008 ficará, para o bem e para o mal, como o ano em que foram batidos mais recordes na história da natação. Alguns dos tempos estabelecidos, caso os fatos venham a ser banidos ou restringida a utilização, prometem durar muitos e bons anos. Até que uma nova tecnologia volte a ajudar a subverter a verdade do cronómetro…
Texto de Nuno Filipe in Jornal O Jogo de 19-11-2008
Texto de Nuno Filipe in Jornal O Jogo de 19-11-2008
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